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CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS / 2018 / BRASIL-PORTUGUAL / DRAMA / 114' / JOÃO SALVIZA e

  • Writer: carmem cortez
    carmem cortez
  • Nov 11, 2019
  • 7 min read

Updated: Jun 6, 2022



cena do filme em que mãe e filho preparam a cerimonia da FESTA DO FIM DO LUTO - a CORRIDA DAS TORAS

Resolvi escrever hoje, 11 de novembro, véspera do meu aniversario, sobre um filme que não traz à primeira vista, uma grande atenção a ponto de me fazer de fato escrever. Não sei se é pelo dia chuvoso -incesantemente chuvoso que me fiz lembrar do filme que tem como título : CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, e relacionei assim a esmo mesmo, a chuva e a véspera de minha nova primavera - ou seja, um novo ciclo.

Em verdade, esse filme trata sobre um tema indígena, mas descobri, a medida que amadurecia o texto em minha cabeça, que renderia uma boa colheita como resenha.

Ele, o filme, fala de ritos, de tradições - e como retrata especificamente a tribo KRAHÓ, versa sobre coisas do seu universo particular.

Mas há sim uma grande correlação entre essa chuva que cai há pelo menos doze horas com o fato de amanhã eu estar de idade nova.

Com direção de JOÃO SALAVIZA e RENÉE NADER MESSORA, as filmagens foram realizadas na terra indígena KRAOLANDIA, e no município de ITACAJÁ - TOCANTINS.

A chuva pode conter varios signos dentro do rico significado que a semiótica sobre A CHUVA possa permitir:

  • chuva "lava" / "limpa";

  • chuva ajuda a regar e fazer florescer o que foi plantado - irriga;

  • chuva elemento água, que nos estudos astrológicos, é elemento da natureza ligado aos afetos, emoções. Aos nascidos em 12 de novembro, o signo que os rege é Escorpião, portanto, um signo de elemento água;

  • chuva na cinematografia de alguns diretores (Woody Allen, por exemplo), muitas vezes é usado como recurso para aproximar os distantes (os pares)...

Hoje chove e acho que todas essas associações descritas combinam com o que está para acontecer na data de amanhã; um novo ciclo se iniciará, uma nova "primavera" florescerá.

CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, é uma ode, uma homenagem, uma afirmação. A CHUVA aqui nesse caso da obra, pode não ter a mesma correlação que descrevi acima, mas este filme é um "presente". É um se fazer presente em nosso inconsciente coletivo de que somos descendentes deles que um dia foram os unicos habitantes dessas paragens que um dia foram conhecidas por "terra brazillis".

E Ritos. A obra sublinha os ritos. Assim como os ritos que marcam passagens de uma nova idade - os aniversários, a tribo dos KRAHÒ, também é repleta de seus ritos.

CHUVA É CANTORIA...inicia com um índio de nome Henrique, sentado próximo a um riacho e ele está a conversar com seu pai, que já está morto.

O pai o adverte que é necessário fazerem o (RITO DE) FESTA DE FIM DE LUTO, para que ele possa partir para a ALDEIA DOS MORTOS.

Henrique não quer que o seu progenitor se perca da sua memória, e acha inclusive que ele, seu pai, o estava a chamar para junto de si - para à ALDEIA DOS MORTOS.

Henrique sente no fundo da alma que há algo em TRANSFORMAÇÃO dentro de si. E essa transformação cogita ser a possibilidade de se tornar um XAMÃ.

A partir de então, faz-se necessário trazer à luz algumas explicações acerca da cultura KRAHÒ.

NOTA(1) A referencia de pesquisas por mim feitas, estarão grafadas ao final do meu texto, assim como a fonte da pesquisa para o conteúdo dessa resenha.

"Chuva é o nome encontrado dentro da cultura KRAHÒ daquele que seria um homem branco, de barba, ao qual um XAMÃ teve visões. Esse homem branco e de barba, na visão do vidente xamanico, prometia que em determinado data, os 'civilizados' iriam se transformar em índios, e os KRAHÒ em civilizados. Para tanto, os Krahós tinham que abandonar algumas tradições culturais, como a roça, a pintura dos corpos, a corrida de toras". "Ou seja, para que a tal transformação prometida acontecesse, teriam de abrir mão de quem são. E do que faziam. Isso foi por volta de 1952". Como nada do previsto aconteceu, o vidente caiu em descrédito. Segundo a crença, "o que lhes foi prometido, é que seriam criadores e comerciantes, o gado lhes desceria dos céus, as mercadorias lhes chegariam em embarcações". "Em 1986 há um movimento messiânico, e empenham-se os KRAHÒS em uma reinvidicação que implicava no oposto: SUA AFIRMAÇÂO ÉTNICA".

CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS, é uma história sobre a cultura de uma determinada etnia. Através do rito de passagem do fim do luto do morto para que ele possa 'descansar' e 'viver' no 'lugar' que pertence aqueles que já se foram, a história foi delineando alguns traços ou pistas do que uma aldeia já perdeu ao ceder aos 'CIVILIZADOS', e que é necessário agora, resgatar e manter sua identidade.

Quando o protagonista da história sai de sua tribo e vai à Cidade, recorrendo aos 'brancos' auxílio, pois se sente doente, há aí duas mensagens subliminares, de como dois fatores são marcantes como caraterísticas na constituição que caracteriza a construção identidaria desse povo

"Com base em estudos, é difícil encontrar sinais de transe nos curadores Krahó quando atuam, o que podem leva-los a negar que sejam propriamente XAMÂS, mas o relato de cada um deles, mostra que foi iniciado como que por um rito de passagem espontaneo, similiar ao do homem que subiu ao ceu, ficou doente, foi abandonado, foi socorrido" ( como acontece com o Krahó Henrique)..... "e o fato de Henrique andar e peregrinar a certa altura do filme, foi durante um bom tempo, esse comportamento (a do andarilho), adotado pelos Krahós, a fim de 'conviverem' com os civilizados, buscando apoio para sobreviver as parcas condições, que durante anos de massacre, roubos, invasões, esse povo se submeteu".

CHUVA ... não é um título desconectado ou de escolha aleatória para o título. CHUVA também demarca a origem do "nome pessoal masculino, e que se constitui de uma serie de palavras que é transmitida pelo tio materno, avós materno e paterno, e outros homens chamados pelo termo de parentesco". "Um homem que tem por exemplo IHOCPEJ (pintura= IHOC) - como se assemelha o nome do meio de Henrique, "deve pertencer à metade da estação da chuvas"

Chuva também tem uma relevancia na história de sobremaneira, não só pelos signos ja mencionados do que ela representa na cultura, mas também marca o momento em que Henrique, que estava, a princípio relutante em voltar à sua tribo - uma vez que havia escolhido a CIDADE para 'fugir' do seu destino / ou de suas obrigações, toma a decisão de voltar, ainda que a pé, para o convivio dos seus. E essa decisão acontece exatamente quando desagua um temporal, e Henrique sai pelas ruas a procura de uma forma de contatar o velho sabio da tribo, e lhe comunicar a decisão de se responsabilizar assumindo o lugar que lhe cabe e é natural, dentro daquela estrutura social que são a tribo krahó. Ele faz esse contato via telefone publico.

Assim como seu pai precisa ser direcionado ao lugar que lhe é de fato e de direito - a aldeia dos mortos, para que o equilíbrio entre os dois mundos - dos vivos e dos mortos ser restaure, Henrique entende que é necessário cuidar da roça, ter sua família (mulher e filho) sobre sua proteção como chefe de família, fazer a CORRIDA DAS TORAS. "A corrida das toras sempre está ligado a um RITO EM ANDAMENTO".

Nos rituais em toda e qualquer sociedade, identificamos-na como algo que está prestes a se transformar e necessita de uma passagem que demarque essa transição do que era, para o que tornar-se-a a ser. E para que essa passagem aconteça, é necessario uma especie de demarcação que vai propiciar a sedimentação do ciclo seguinte.

  • É assim com a morte ( em algumas culturas, velar o corpo, enterrar;

  • É assim com alguns momentos dos anos de nossas vidas como a cerimônia de 15 anos para as meninas de cultura religiosa cristã;

  • O Bar-Mitzvá para os jovens judeus;

  • A celebração da cerimônia de uma união conjugual;

  • Os aniversarios de uma maneira geral e suas comemorações;

Os rituais nos 'empurram'e nos obrigam a elaborar traumas, por exemplo, e tambem histórias que necessitam se deixadas no passado, ou ainda, permitem nos abrirmos à leveza que a vida deve conter.

Assim como a chuva pode 'lavar' (e 'limpar') e trazer de volta a leveza do florescer, a Obra tenta trazer pra dentro da compreensão, que a aceitação e a afirmação dos valores são necessarios para a construção das identidades.

Assim como os aniversarios nos trazem o conceito de 'EU ESTOU VIVO E COMPLETO MAIS UM NOVO CICLO DE MINHA HISTORIA' - que também pode ser entendido como um RITO, chorar e cantar pelos seus mortos, nos ajudam a caminhar lado a lado com nossa ANCESTRALIDADE. E que nos ajuda a nos colocarmos no centro do mapa do 'EU'. Da identificação do que SOU.

CHUVA... fez sua estreia mundial no FESTIVAL DE CANNES 2018 e levou o premio ESPECIAL DO JURI, da mostra UN CERTAIN REGARD. Percorreu mais de 50 festivais internacionais, levando 11 premios no total.

CHUVA... é o Brasil (que estava) fora do mapa.

still do filme: CHUVA É CANTORIA NA ALDEIA DOS MORTOS

NOTAS: Referencia à pesquisa (tudo o que está entre " ", são parte integrantes dos textos das seguintes fontes):

FONTE: (WEB): htpps://pib.sociambiental.org./pt/povo krahó

"PIB - POVOS INDÍGENAS DO BRASIL"

"EM 1997, o site POVOS INDÍGENAS DO BRASIL - parte do PORTAL ISA, elabora e disponibiliza informações sobre os povos e a temática indígena. O ISA é uma extensa rede de colaboradores voluntarios, não só pra colocar os indios no mapa do Brasil, mas também para apoiá-los em seus projetos..."

NOTAS sobre a FONTE: "Julio Cesar Melatti publicou uma tese de doutourado defendidda na UNICAMP e publicada com o título "Os Mortos e os Outros", desenvolve a reflexão sobre a noção de pessoa entre os Krahó..."

FONTES de Informação:

  • ALMEIDA, Graziela Rodrigues de. Agricultura Krahó: implicações sóio-culturais de interação homem; meio-ambiente. Brasília; UnB / DAN , 2003 - (Monografia de graduação);

  • AZANHA, Gilberto. A forma "Timbira": estrutura e resistencia. São Paulo: USP, 1984. 148 p (dissertação de Mestrado);

  • BATISTA, Roselis M.. A língua como veículo de resistencia cultural:O caso Krahó e a influencia do portugues. Terra Indígena, Araraquara. Centro de Estudos Indígenas, v.9, n.63, p.30-43, abr/jun 1992;

...

OBS:

Para ver todas as outras fontes de informação, visitem a página:

htpps:// pib.socioambiental.org/pt/povo krahó

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