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THE HATEFUL EIGHT (Os Oito Odiados) / 2015 / USA / Drama, Misterio / 187' / Quentin Tarantino

  • Writer: carmem cortez
    carmem cortez
  • Jan 22, 2016
  • 5 min read

Tarantino traz para as telas seu 8o filme e talvez, o numero oito a que se refira em seu título, seja uma homenagem a Frederico Felline quando este fez seu "OITO E 1/2".

Talvez Tarantino já tenha chegado ao mesmo patamar do cineasta italiano acima, não por terem ambos uma identidade assemelhada na obra de um e de outro, mas por ser o cineasta americano a certeza de já ter seu reconhecimento como diretor.

E com "Os Oito Odiados", não há dúvidas quanto a isso. A começar pela primeira sensação impressa na tela : a camera começa fechada numa escultura de um Jesus crucificado, e vai abrindo, 'alargando', tornando o plano maior, mostrando uma diligencia (aqui a grua vai subindo) ao fundo, apressada, atravessando uma paisagem entre montanhas cobertas de um branco absurdamente branco da nevasca que cai inclemente.

À essa imagem última desde aquela em que vemos o 'Cristo' inicialmente, junta-se a música de Enio Morricone.

Tarantino tem como uma das suas marcas como realizador, reunir uma trilha sonora marcante, empolgante. Ele escolhe com meticulosidade as musicas de seus filmes e o faz pessoalmente. E é muito feliz nisso. Haja vista os filmes "Pulp Fiction" e "Jack Brown", que tem recorde de vendas de cds e tem bastante playlist por aí nas plataformas de musica com alguma coisa de um ou outro desses dois filmes. Eu mesma tenho ambas as trilhas.

Nos dez primeiros minutos de Hateful Eight, a musica de Morricone se vale de um ritmo crescente que vai expandindo junto com o plano, tomando conta da tela conforme a cena vai incorporando mais elementos, mostrando uma diligencia em ação descauteladamente. O ritmo da música vai crescendo quando que tomando conta tambem não mais só da tela, mas da sala de exibição, e vai também num crescente no sentindo inversamente proporcional - a camera vai estreitando nosso contato com a diligencia, saindo da grande landscape que a precede.

Aqui é como se não só a camera fizesse sua parte em apresentar os personagens, mas também a música tem essa função.

Esse contato, nesse momento, onde a diligencia e só ela esta dentro do quadro, os primeiros personagens surgem mas não apenas com a missão de contato, mas acima de tudo de convívio.

Exatamente isso. Conviveremos com eles. Os oito. Seja pelo elenco, seja pela trilha sonora, pelos diálogos, ou pela arrojada ideia de ter filmado numa ULTRA PANAVISION 70 MM, que sem tudo isso junto, nao haveria nada mais tão bem orquestrado aqui.

É como se o Tarantino tivesse uma corda bem atada a todos os seus personagens, e como bom 'títere', no bom sentido da palavra, ele afrouxa e aperta, para que seus 'bonecos' deslizem, tal qual uma dança harmonica se desenhe, se delineie. Um atar e afrouxar de suas 'marionetes'.

É assim que "Os Oito..." são construídos, alternado-se entre o risível e o temível. O que ha de deboche, ha também de clima policial (um 'policial por assim dizer do velho oeste). E essa montanha russa é alternada na dosagem precisa.

Assim como o branco da neve e o ceu de um tom de azul celestial tomam a landscape da cena inicial, formando um contraste bem temperado de opostos, Tarantino é sério e ao mesmo tempo leve. Faz de assuntos sérios seu estandarte - sabe que o cinema antes de tudo é entretenimento, e 'brinca' de 'resgatar' 'desastres' da História Universal provocadas pelo próprio homem.

'Resgatou a humanidade' do holocausto quando (arquiteta) mata Hitler dentro do cinema em "BASTARDOS INGLÒRIOS" (ano de lançamento: 2009, distribuidora: Universal Pictures; The Western Company), e tal como lá em 2009, ele agora resgata os negros nunca reconhecidos e ludibriados da história da Guerra da Secessão, na pele de Samuel L. Jackson.

É debochado. Tem um deboche que se faz necessario para que a gente respire um pouco, um aliviar de tensões para que o clima 'frio' volte e dê continuidade a história.

E há um exemplo fantastico desse tom de deboche que acaba se transformando em uma cena hilária: o personagem O.B. Jackson (o ator James Parks), depois de cumprir uma ordem ao sair fora da cabana onde estão todos os oito presos, 'atados' uns aos outros, volta, após enfrentar a nevasca, bradando que não irá mais lá fora, e, se enrolando a um cobertor/ tapete marrom felpudo arrancado da parede, deita em frente à lareira.

A camera o mostra de costas como um urso tentando se esquentar, a fim de que não morra congelado. A isso se soma dois personagens, perguntando se ele está bem. Arrancou de mim na mesma hora uma gargalhada que eu nem estava preparada pra ela. A cena aliás, lembra umas pantominas que "OS Irmãos Marx" costumavam utilizar em seus filmes.

Na sequencia, um outro tipo de cena, interessante ao espectador, e que vai mostra-lo de maneira clara essa condução dos opostos que o filme tem subjacente á história, é quando um dos personagens, o mais rude deles, senta-se ao piano e toca "NOITE FELIZ", servindo de pano de fundo para uma batalha psicologia travada por dois homens que se confrontaram nos campos de batalha da Guerra Civil Americana.

Tarantino deixa explicito aquilo que falo em algumas linhas la atras, alguns paragrafos acima, que é o RESGATE. E os 'opostos' que versa sobre ser serio e não ao mesmo tempo. Sobre tratar as bizarrices enxertando uma dose de deboche, como se esse deboche quisesse tirar 'sarro' desses estranhos motivos que originam os grandes ERROS da HUMANIDADE.

O elenco é estelar - e estão todos armados. Não só de seus respectivos talentos, mas literalmente armados. Todos ligados de certa forma uns aos outros. 'Atados' e 'presos' (figurativamente) dentro de uma mesma cabana, presos pela mesma condição climatica adversa. E cada um dependente do outro.

E cada um agindo por inspiração ao mando do outro, e em alguns momentos, todos se deixando levar facilmente uns pelos outros . Como os TÍTERES, do sentido figurado em que essa designação se apresenta.

Unidos estão circunstancialmente, mas cada um, na tentativa de lograr por liberdade, estão por si só. E não se pode confiar no outro. É como um romance policial dentro de um contexto western. Estão todos a dependerem uns dos outros para sobrevivencia. E nessa 'guerra', nessa pequena 'guerra de nervos' que rege o clima entre os personagens, é que o publico fica mesmo torcendo para que Samuel L. Jackson se dê bem.

Afinal de contas, na Guerra não ha vencedores - de nenhum dos lados. Mas Quentin Tarantino nos faz acreditar que temos HERÓIS, e resgata nossa fé, como parece nos dar pistas no primeiro quadro do inicio do filme - a do JESUS crucificado.

Channing Tatum numa participação especialíssima no filme.

Por ora, na expectativa por "ONCE UPON A TIME IN HOLLYWOOD", seu último trabalho exibido agora no ultimo

FESTIVAL DE CANNES 2019

E pr'aqueles que são fãs do trabalho deste realizador, a ansiedade é alta.

Certamente não deve nos decepionar

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