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UM NACIONAL E UM ESTRANGEIRO COM ALGO EM COMUM

  • Writer: carmem cortez
    carmem cortez
  • May 14, 2015
  • 6 min read

Permanencia / 2014 / Brasil / Drama / 90' / Leonardo Lacca

Ha filmes que não precisam, não se ocupam da rigidez dos porquês, do que leva/levou este ou aquele personagem a fazer isso ou aquilo. Na verdade há filmes que podem dar conta do recado muito bem obrigada, sem necessariamente pautar suas ideias pela equação do princípio+meio+fim. E levando isso em consideração, temos no circuito duas histórias que contam suas histórias sem roteiros muito elaborados e sim uma boa e contundente capacidade de aproximação com o espectador - PERMANENCIA ( de Leonardo Lacca), e MAD MAX (de George Miller).

Vamos começar portanto, pela ordem em que foram assistidos, por PERMANECIA.

E na Sequencia

MAD MAX ESTRADA DA FURIA

Mad Max : Fury Road (MAD MAX - estrada da furia) / 2015 / USA /Ação, Aventura, Sci-Fi / 120' / George Miller

Permanencia conta a história de um fotógrafo pernambucano que vêm à São Paulo expor seu trabalho em uma galeria que aposta em novos talentos, e se hospeda na casa de uma amiga que vive com seu marido.

De permanente, nosso fotógrafo Ivo, personagem de Irandhir Santos, somente as fotos. De permanente na vida somente a fotografia. Ela é que eterniza.

Ivo é um estrangeiro, ou um estranho - não conhece São Paulo, mas 'se vira bem na cidade', como diz ao marido de sua anfitriã. ... "Em Recife, continua ele, "faz 29º graus o ano inteiro". "Em São Paulo, ao contrario, as vezes no mesmo dia faz as 4 estações do ano", redargue o outro.

Sim, senhores, este país que consegue combinar variações climáticas numa mesma dimensão territorial.

Sim, senhores, uma cena que consegue combinar dois estranhos que mal se conheceram e ja tem entre eles o objeto de desejo que os faz próximos, ligados um ao outro. Os dois homens de temperamentos tão opostos e ao que parece, permanecerão por um curto período convivendo no mesmo espaço. A Permanencia não necessariamente une, sela. A Permanencia inclusive pode ser momentanea - volátil.

O marido da amiga com seu sotaque carregadamente paulistano, seu senso pratico e objetivo, e o fotógrafo com seu Nordeste pulsando pelos poros de quem tem o calor do corpo abrasado pelo desejo do reencontro, que não identifica na tapioca com queijo brie um bom casamento gastronomico (piada interna do filme).

Ele, o fotógrafo, claramente um estrangeiro quando parte da casa que está hospedado para um hotel. Ja acomodado no quarto, ao fechar a cortina, somente seu espectro, seu contorno, uma tv ligada que está fora de quadro, mas com um audio de alguem falando em outro idioma - juntos, esses elementos na cena ( a silhueta e a fala na tv em ingles ), nos informa que este homem está distante. Que o estranho está destacado. O que está na penumbra não pode ser totalmente identificado, mas sim sua silhueta, sua sombra. O desconhecido não é palpável. O que não conhecemos não conseguimos tocar. De Permanente somente as fotos! E essas, impressas no suporte do negativo, "porque não tem outro jeito de ser diferente. Se não for assim desse jeito, (no negativo), não é possível", diz o personagem de Irandhir, à personagem Rita (a atriz Rita Careli), que surpresa fica por ser filme e não digital a matriz de sua arte.

Um estrangeiro dos afetos que tem um amor em terra, um amor no passado, uma passageira relação sexual ao acaso.

Quando o final e com ele os créditos, fui identificar concretamente o que mais se destaca neste filme : a naturalidade nas interpretações. E é exatamente esse tom natural nos diálogos entre os personagens, que faz com que nos aproximemos dessa história.

Dentre outros nomes da história do cinema, um salta aos olhos enquanto a tela vai exibindo o cast: Kleber Mendonça Filho; ele é um dos concigliére do filme. E certamente deve-se à ele essa 'pegada' esse tom naturalmente falado dos personagens para contar a história em si. Essa direção, esses planos medios, seus diálogos, trazem o espectador para dentro do filme. É como se estivéssemos vendo (de perto) pessoas comuns como eu, voce numa conversa amena, despretensiosa, e não atores interpretando. Até as cenas de nudez são naturalíssimas. Há um momento no filme que essa mesma cena de nudez está ali não como um momento crucial da história, mas um momento qualquer. Um daqueles que saímos às pressas do banho para atender uma chamada, pressupondo seja uma ligação importante. E é perfeito. Cabe. Não fica gratuito.

Historias podem ser mostradas sem ganchos explicativos. Cinema não precisa ser o cinema da narrativa. Não se sabe muito bem de onde os personagens de Irandhir Santos e Rita Carelli se conhecem; alias sabe-se pouco. Ou quase nada. E isso não sobra, nem falta. Não se tem noticias de como leva a vida a amiga do fotógrafo, ou como ela ficou depois que ele partiu ... o diretor quis nos aproximar de uma outra coisa chamada afeto. Emoção é o que nos move. E até isso (emoção), tem sua Permanencia perene.

Assim como em Permanencia, nosso outro filme a ser aqui abordado, quer trazer o espectador pra dentro do filme por intermedio de um recurso que não mais pela história propriamente, mas ela também em certa medida.

MAD MAX também não quer construir uma história mirabolante com um intrincado e elaborado roteiro, ou que tenha uma mensagem filosófica apoiada por tras. "MAD MAX - Estrada da Furia" agarra o que Mad Max tem de melhor, e nos devolve: AÇÃO, AÇÃO, AÇÃO! Efeitos especiais?! Poucos! Uma equipe estupenda que faz um excelente trabalho nas cenas de luta, tanto nos ensaios com os atores, quanto aos dubles que ele disponibiliza, no trabalho do fotografo, no de Arte, na Trilha Sonora (específica, diga-se de passagem). Mad Max pode até ser uma fabula moderna, o que me fez acreditar que ele o é no decorrer de sua exibição. Mas sua proposta é outra; ele nos faz entrar dentro dele atraves tambem de um truque a mais - sua camera!

Mad Max tem o poder de levar voce pra dentro da história da mesma forma como Permanencia faz; ele não precisa de uma equação, voce não precisa entender porque a personagem de Charlize Theron é quem ela é e porque faz o que faz. Mad Max tem o dom de fazer voce correr junto com as motos, os carros, e ainda tem uma camera presa ou que entra embaixo de um caminhão, que tira seu folego, e está repleto de perseguições frenéticas e espetaculares. E se alguem rola ladeira abaixo, parece que a gente vai junto.

Por motivos diferentes, ambos os filmes te deixam sem folego - o primeiro, Permanencia, porque ele trata os afetos não verbalizados, e não elaborados como se estivessem entalados na garganta. E apesar do ritmo devagar e lento de se contar as coisas, o 'choro' dos personagens principais fica como se fosse um nó na garganta.

Da mesma forma, mas por vias diferentes, este segundo filme aqui citado, Mad Max, também te leva a dar um nó , mas no estomago pelo frenesi que é cada cena de ação.

Em comum ambos te arrastam junto. Te puxam pelo braço e te jogam pra dentro da história. Um pela dor dos sentimentos peculiar ao personagem, e o outro pela naturalidade como o ziguezagueado das cenas de perseguição e ate as de lutas, são tratadas...e com a mesma naturalidade, como se todos aqueles atores ja tivessem nascido com as habilidades de seus respectivos personagens.

Um grande destaque de Mad Max é que as cenas de luta, são ensaios, ensaios, e mais ensaios. Dá pra sentir isso. Tem muito tempo gasto ali com coach. A terrra não é efeito especial. A poeira que levanta, não é chroma key. E os travellers são a cereja do bolo. A gente acompanha a ação na mesma velocidade de seus carros em perseguições frenéticas pelo deserto. Assim como a gente acompanha um diálogo banal ou uma cena de nudez de uma mulher atendendo o telefone na cama, saída do banho em Permanencia, colocando a gente dentro e junto dos personagens, aqui em Mad Max a mágica de se estar dentro da cena, colocando a gente junto dos personagens, também acontece.

Há também um outro destaque especialíssimo de estrada da furia: a camera que sai atras de um monte alto e desce tal qual uma daquelas motos à espreita de "Furiosa", quando esta vai entregar o ouro.

Só essa cena, e a luta que ela trava no deserto com Tom Hardy ja valeriam todo o meu ingresso.

"TESTEMUNHEM" a essa versão anos 2000 de Mad Max e sua afiada equipe...

... por que a meu turno, ainda não testemunhei nada nesse primeiro semestre de 2015 que me deixasse extasiada. E o que é mais curioso - em extase por opostos: um nacional e um estrangeiro. Um pelo ritmo calmo , lento de contar uma história, o outro pelo ritmo frenetico de ação de contar uma história

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