Birdman - ou a inesperada virtude da ignorancia , 2014 / USA / Drama / 119 Alejandro Gonz
- carmem cortez
- Jan 13, 2015
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Imagine o letreiro de teatro q acende as letras de tres em tres, ou acende uma letra primeiro, depois mais duas ou meia duzia, e assim vai surgindo o nome dos artistas principais e o nome da peça.
Pense em quantas funções a marcação de um tambor e/ ou bateria, ou mesmo uma meia duzia de acordes de um instrumento qualquer tem na apresentação de um espetáculo, de uma figura importante, de um jogo? Num circo, por exemplo, o rufar dos tambores antes do numero principal da noite; nos jogos medievais, onde os cavaleiros são apresentados antes da luta pelas trombetas; a entrada triunfal de um membro da corte quando adentra o salão de um palácio. No stand up comedy quando a piada é finalizada.
Agora junte esses dois elementos ( o letreiro e o som) para introduzir uma história, apresentar um personagem, mais precisamente o do Michael Keaton, dentro deste filme do diretor Alejandro González Iñárritu. Dizer que foi uma grande abertura é pouco. O filme começa e termina com os créditos nesse 'acender' de letras formando os nomes, no compasso da bateria. Bateria essa que acompanha o ator em seus momentos de Riggan. Nos momentos em que ele pensa como Birdman, uma música, que percebemos ser da imaginação do Riggan, toma conta da cena. Originalidade total. Alguns poderão dizer que já viram esse filme. A história, claro. Em algum outro filme, lógico. Mas cinema não é a história, mas a forma como ela contada. E ele sabe contar uma história. Foi assim em Babel, Biutiful...E essa historia começa muito bem.
O enredo é de um ator que quer se reinventar, cansado de ser o ator de um personagem só, tentando se superar montando uma peça na Broadway, fazendo uma adaptação de um clássico. Mas assim como no inicio e no decorrer, o filme alcança um voo além do esperado. É criativo, é inventivo.
Iñárritu coloca alguns ingredientes que os atores já vivenciaram/vivenciam ou pelo menos em algum momento já ouvimos tais histórias deles: o pesadelo de não conseguir entrar em cena, e de ser ridicularizado, e aqui precisamente ele o faz de maneira concreta; o conflito de egos entre atores que estão protagonizando um mesmo espetáculo; o receio da crítica...
A isso mistura-se uma inusitada incursão pela cabeça desse ator, o Riggan interpretado pelo M.K., que precisa ter um “rufar de tambores”, “um acorde “ musical qualquer advindo do som da bateria de um cara que toca na rua, para marcar seus passos, sua movimentação, como faz um ator no tablado que precisa de uma marcação em cena! E ele está tão colado ao seu birdman – seu eterno papel, que ele não só tem um suingado de bateria em sua mente, mas tem também a voz do personagem que não quer descolar da sua pele. A história então segue seu curso, uma viagem deliciosa, com momentos de ironia fina, piadas certeiras que atinge em cheio a classe artística (os nomes são citados sem perdão), e o final, bem o final é cheio de uma delicada poesia – um carinho mesmo que o Iñárritu escolheu para afagar o personagem do Keaton, como quem afaga a cabeça de um passarinho que está entre as mãos, e depois abre para que possa voar.
Pode ser que Birdman não agrade fácilmente, mas abrindo os sentindos - olhos e coração - é uma bonita e profunda diversão. Vale cada minuto desses 119' de duração.
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