O SEGREDO DAS ÁGUAS / STILL THE WATER / FUTATSUME NO MADO 2014 / Japão/drama / 121’ Naomi Kawase
- carmem cortez
- Jan 26, 2016
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A água é um elemento que nos fala de emoção. Neste filme há dois oceanos ou duas imagens de mares diferentes um do outro em seu aspecto, em sua apresentação. Um mar é – ou vez por outra se mostra – calmo, de aguas tranquilas. O outro é – ou o vemos assim – de aguas agitadas, com ondas quebrando revoltas na arrebentação.
Há duas mães: uma que tem uma família estruturada, com um marido e uma filha, numa harmoniosa convivência, daquele tipo de convivência de sentar-se à varanda de casa e jogar conversa fora, cantar alguma canção folclórica e lembrar situações pitorescas da vida. Na outra via, uma mãe que só tem como família um filho, e vive com ele uma relação difícil, distante, de desencontros. Desencontros no espaço coabitado, e desencontro afetivo – enquanto ela procura ser carinhosa dentro da medida do seu melhor, o menino a mantem afastada dele. Uma mãe é tranquila, serena, apenas esperando o seu destino chegar, o que não tarda a acontecer. A outra tem uma vida social/emocional agitada, de romances efêmeros e noturnos, ao que tudo indica.
Nesse meio, entre as duas mulheres de perfis antagônicos, uma aldeia que às vezes é invadida por tufões, e com eles a chuva. Mais uma vez o elemento que denota emoção. Uma aldeia que traz um homem morto ao mar, logo no primeiro terço de projeção, nos alertando que o filme trata de questões que permeiam nossas vidas, como a morte.
Uma aldeia onde um velho e sábio (todos os aldeões velhos são sábios) – uma espécie de conselheiro tribal – corta a garganta de um ou outro cabrito, passando a navalha sobre o pescoço do animal, e o horror que tal cena possa nos causar. Mas é por certo a garantia de comida à mesa. Uma metáfora sobre a questão dialética da vida e da morte.
A figura do velho, pois, é a figura do tempo. O que nos dá o alimento que consumimos para sustento da alma. Nossas histórias, nossas vivências, o que levaremos conosco pra onde quer que formos.
As marés são as mães desta história – haja vista a fala de um dos personagens aos quase 20 minutos finais.
“Still The Water” nos fala da vida, da morte, do tempo. E de como esses personagens lidam com isso.
Naomi Kawase em seu cinema fala do imaginário que permeia a existencia. E a vida se move tambem por esse eixo. A roda do inconsciente imaginário.
A frase final do ancião sintetiza, de certa maneira essa história, trazendo um delicado desfecho a esse bem dirigido filme japonês, não deixando dúvidas de que é a ele – o tempo – que devemos dar o que de melhor temos em nós, seja revolta ou serena a nossa natureza.
O tempo é o elemento condutor daquilo que ainda está por se efetivar...ainda em construção. A construção de nossas histórias.
E, sábio, o tempo, enquanto vê os dois jovens nadando no mar, diz que está “...contando com elas, as crianças...”
Um filme que traz à tona uma onirica forma de reflexão d'um pouco sobre a vida dentro do mar que nos habita.
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